sábado, 21 de março de 2015

Pshyco

Superficial é o que eu tenho sido, porque eu não quero que saiba o quanto dói. Eu queria rosas com espinhos, ursinhos com bombons. Eu queria carta de amor, declaração de amor, amor. Eu queria presentes baratos, jantar a luz de vela. Eu queria viagem romântica, filminho Disney. Eu queria Machado de Assis, Vinicius de Moraes. Clarice Falcão, por que não? Eu queria todos os clichês possíveis. Eu queria: você está linda, sinto sua falta, eu te amo tanto. Era isso que eu queria e você nunca pôde dar. Sempre me deu um olhar, um suspiro, um cheiro, um abraço, um beijo, um peito, um colchão. E eu fui ficando porque eu gostava do olhar, do suspiro, do cheiro, do abraço, do beijo, do peito, e só um pouquinho daquele colchão de solteiro que mal cabia nós dois. Eu queria mais, mas para mim o que você tinha para me dar era o suficiente para me fazer feliz. Então você se entediou demais com tudo o que eu sou. Decidiu então fazer uma cicatriz diferente a cada ano para matar o tempo. Decidiu me fazer lembrar de você em cada lágrima e não em cada memória. Você poderia ter sido o clichê mais bonito dos meus versos e escolheu ser o monstro embaixo da minha cama.

Droga

Tudo começou com um cigarro. Um trago suave, perigoso, divertido. Mas ainda assim era tão fácil olhar dentro dos seus olhos e dizer: eu amo você. Então veio o uísque. Quente, forte, emocional. E tudo ficou um tanto quanto intenso. Mas ainda assim era fácil olhar dentro do seus olhos e falar: eu te amo. Então veio a maconha. Uma tragada pesada, ardida, sorridente. Um tanto quanto engraçado o que a gente tinha, até patético. Mas ainda assim era fácil olhar dentro dos seus olhos e dizer: te amo. Então veio o LSD. Ácido, amargo, louco. E tudo ficou sem sentido, distorcido. Mas ainda assim era fácil olhar dentro dos seus olhos e falar: eu gosto de você. Então veio a cocaína. Uma cheirada corrosiva, viciada, infeliz. E tudo se tornou briga, egoísmo, doença, bipolaridade, vontade de magoar. E então se tornou fácil olhar dentro dos seus olhos e falar: eu odeio você.